O leite do doce Seu Tião




No domingo, dia 22 de novembro de 2009, comecei a fazer um doce de leite, no fogão à lenha em Aiuru, para não perder o leite recém tirado da vaca, gentilmente presenteado pelo seu Tião. Simplesmente despejei o leite na panela com um tanto de açúcar que julguei mais do que bom, sem baixar demais o estoque da casa. Fui mexendo as vezes e tentando lembrar algum truque para o leite ferver sem derramar. Almoçamos e arrumamos toda a casa para sair, deram-se inúmeras fervuras. O leite chacoalhou até SP na mesma garrafa de Coca-cola de 1,5 litro, super amassada, que enrugou ainda mais quando eu tentei preenchê-la com o leite fervendo, sem poder evitar que caísse também para fora, melando de forma aderente e grudenta, toda a garrafa. Bom, pelo menos não tinha muito risco de vazar. Imagina isso no chão do carro.
Passou a noite de domingo na geladeira. Pela manhã, a Rose me previniu de que estava estragado, coalhou, mas não estranhou quando eu pedi a ela que não jogasse fora.
No dia seguinte pedi que coasse o coalho, dispensasse, pusesse o resto na panela e continuasse a fazer o meu doce de leite.
Ela tem um sistema racional direto e faz exatamente o que eu peço, independente do resultado que ela eventualmente poderia manipular, com um pequeno ajuste das minhas instruções nem sempre muito objetivas.
No meio da manhã ela me falou, Mariana não deu certo, virou uma farofa. Que? Uma farofa? Que máximo, deixa eu ver. E lá estava uma substância esfarofada, empedrada, castanho claro avermelhada, doce. Olhei e entendi o potencial, mas não quis experimentar, eram onze horas, estragaria o meu apetite para o almoço. Pedi que deixasse esfriar na panela e guardasse em um vidro fechado.
Apenas hoje, sábado a tarde, antes de ver um vídeo, mostrei ao Leo o resultado do leite do seu Tião. 
Misturei numa proporção de três pra um com um sal dos bons que tenho por aqui e espalhei num sorvete de café para acompanhar Cinammom Rolls ready made.




[Meret Oppenheim, object]


“he said it was sweeter and thicker than cows then he wanted to milk me into the tea...” 
― James JoyceUlysses

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